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quinta-feira, 8 de março de 2012

Primavera...


"aspirações literárias não totalmente reprimidas..."

Olho pela janela e desejo a primavera, como se o prelúdio do vento trouxesse consigo doces sonetos prósperos de amor e sorrisos... Estou aqui sentado no chão, sonhando acordado com paraíso e bolhas de sabão... Então querida, meus papéis acabaram, e as fitas amarelas estão gastas e puídas, mas sei que isso não muda o que é verdadeiro e puro. Embora minhas mãos ainda doam das últimas palavras, sinto-me traidor por não estar cumprindo com minha promessa. É engraçado como os pássaros se enamoram nesta época do ano... Ontem mesmo lhe escrevi como era digno de uma tela de um desses grandes gênios da pintura, a imagem desta janela... deve estar em algum lugar por aqui... Perdão pela bagunça mas o vento fez as cartas alçarem voo quando abri a janela para ver o nascer do sol... Desde que você viajou tenho sido fiel a minha promessa e tenho lhe escrito sobre o meu dia, sobre minhas horas neste aconchegante chalé que outrora servira de inspiração para sussurrados olhares e juras sentimentais esboçadas no rubor de nossos lábios que sorriam e ficávamos sem graça de tudo estar assim tão simples e ao alcance do coração... Tenho todos os dias, não pulo nenhum, mesmo quando chovia, ou fazia frio, eu saia e amarrava fitas amarelas em árvores pelo caminho, depois das árvores, comecei a amarrar fitas em todos os lugares... E vou continuar amarrando essas fitinhas... Eu lhe prometi fazer isso até o dia em que voltasses... Confesso amor, que perdi a noção do tempo porque cada minuto longe tem sido o mesmo que um inverno sem fim... Estou desejando a primavera... Fitas amarelas para cada dia distante de você... Essa janela realmente tem um vista privilegiada... Se minhas mãos não doessem tanto escreveria mais... Tenho lhe escrito desde o derradeiro olhar, incessantemente... Sempre gostei da companhia das letras, até você surgir. Eu escrevia sonetos, poemas, prosas, histórias sobre heróis e heroínas, mundos fictícios onde tudo era bom... E todos eram eternamente jovens... Você costumava ler por horas a fio minhas letras, por se sentir parte daquele mundo, por sair do real e entrar no que era o certo... E eu escrevia... Agora, me atenho a escrever cartas a você, mas não agora que minhas mãos estão fracas e doloridas... uma vez eu ouvi dizerem que as palavras são etéreas, que quando a falamos, elas não morrem, elas ficam flutuando pelo espaço até o dia em que alguém as encontre, ou que ela nos encontre novamente... E eu sinceramente acho que isso seja possível. Um dia o homem inventará uma máquina que captará cada palavra proferia e a encaminhará ao seu destinatário para que ele se lembre... Por isso eu tenho falado por estes dias, nesta esperança de que você receba estas palavras, já que todas as cartas que lhe enviei, voltaram para mim e agora eu as guarde todas por aqui mesmo... Escrevi por todos os lugares quando o papel faltou... Queria saber desenhar para fazer uma cópia fiel de seu rosto, porque minha mente tem pregado peças, e por vezes me esqueço dele... Palavras não têm sido suficiente para que eu seja fiel a você, mas que posso fazer se só sei escrever e sonhar e olhar da janela e esperar a primavera? Desejo a primavera com todas as suas cores e sons, aromas e você. Na primavera você veio e com a primavera você se foi e desde então tudo é inverno, com alguns toques amarelados e rascunhados desejos de viver novamente o primeiro sorriso despretensioso de significados mais profundos... Tenho medo de me esquecer do quanto fomos leves e risonhos... minhas mãos tremem e não firmo mais a caneta como antes, então eu olho pela janela, desejo a primavera, e amarro mais uma fita amarela sem saber como contar o tempo que passamos longe, e tenho que falar na esperança de que um dia estas palavras cheguem a você, que um dia você receba minhas saudosas cartas e descubra, leia, entenda, ouça aquilo que eu fui incapaz de lhe dizer, por algum motivo que ainda não descobri...  Talvez tenha sido esquecimento... Como fui tolo! Escrevi por cada espaço vazio, por cada folha, por cada parte de meu corpo para que você saiba o que eu não consegui dizer, o quanto você me fez feliz, o quando me senti completo e especial, o quanto a sua ausência me causou e o quanto tenho desejado a primavera esperando com ela o som da sua voz... Espero que um dia essas palavras encontrem você... Como você me encontrou naquela manhã de primavera...
(kaio gomes bregamin)



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