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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Rabiscos...

Sirva-me por favor, aquela dose urgente e embriagante daquilo que tanto almejo. Não quero ficar sóbrio hoje, porque a sobriedade trás com ela as sombras, monstros e uma torturante visão opaca do mundo. Quero uma dose grande e extra forte. Quero me ver forte e bravo, mas honestamente tem sido difícil. Aquilo que me era certeza, nesses dias de clima inconstante tem se mostrado seco e infrutífero. Desgosto. Eu a cada dia desejo algo que possa me fazer sentir inteiro, algo que seja capaz de me preencher, algo capaz de me curar dessa enorme falta que sinto. Mas não consigo. Quando somos crianças, parece que o tempo não passa mesmo desejando que ele passe logo. Então, de um dia para o outro temos 50 anos e tudo que sobra da infância é um retrato em preto e branco. Saudade. Talvez seja disso que eu venha buscando, quem sabe seja esse sentimento que eu queira que preencha o meu corpo.
Eu levanto todo dia e lamento estar na realidade porque com ela aparecem todos os meus monstros e medos, tudo aquilo que tanto me faz mal. Todo dia me vejo num dilema crucial e só me resta o conformismo do meu suicídio particular, quando eu me anulo. Sinto falta da infância. Mas você nunca me entende, não é? Você não me enxerga e nem pode me ouvir. Você só consegue projetar em mim a imagem ideal daquilo que eu jamais vou querer ser. Você lança em mim a sua dor como se eu fosse culpado das mil mazelas que te atormentam. Quem sou eu? Sou uma pessoa com sonhos, desejos e urgências, ou sou somente aquilo que você almeja?
Isso me deixa com muita raiva! Me enfureço e recorro aos meus improvisos emocionais desejando que você consiga me ver como eu sou. Mas logo abandono a raiva, porque, sei que a raiva é um sentimento raso de uma mágoa mais profunda. Fazes-me falta. Falta daquilo que fomos. Daquilo que por um breve lampejo desejei que fosse eterno. Eu sou eu, e não o que você quer! Eu mudo, recrio e transformo-me. Sou quem eu realmente sou, cego aos seus olhos limitados. Eu arrisco sem medo e me lanço ao novo. Porque isso tinha que acontecer? Porque temos que perder? Porque viver em um ciclo dilacerante de dor e perdas? Minha avó sempre dizia: "a gente risca, o destino vem e rabisca". Estou tão rabiscado que nem sei mais onde começa o rascunho de mim.
Enquanto isso preparo mais uma dose forte, porque seu cheiro me lembra de casa, me lembra de coisas bonitas e de amor, e por hora isso basta para me manter vivo. Aceita uma caneca?

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