Lisa – São 3h39 minutos... 40
agora. E eu tinha jurado pra mim mesma que você não iria mais atormentar meus
sonhos. Eu estava indo bem, mas você teima em voltar a tona quando tudo parece
estar bem pra mim. Noite passada foi a mesma coisa. Eu desenvolvi um mecanismo
de defesa para quando você invade minha mente durante a noite, meu corpo deseja
se libertar disso e eu acabo acordando. Tenho acordado várias vezes durante a
noite. O café que antes era um prazer pra mim, tornou-se um parceiro fiel
durante as madrugadas frias, quando fico sentada no chão frio da cozinha
rezando para que o sono chegue e Morfeu me conceda algumas horas de paz...
Ontem num surto desesperado tentei acabar com isso. Uma lâmina feroz que
pudesse sanar todo o mal, mas que conseguiu somente um corte lento e doloroso
no punho. Sou fraca demais, covarde demais, tola demais. Sangrei em silêncio,
desejando que junto com meu sangue você morresse em mim. Não tenho sentido
minha mão desde então, não tenho firmeza mais para segurar a caneca de café.
Idiota, né?! Você é como a fênix, que ressurge das cinzas e me queima com seu
fogo imortal. Não tenho forças para matar você em mim, todas as tentativas de homicídio
não passam de uma série de “quases”... Porque?! Quero liberdade... E agora como
costumeiro, estou sentada no chão frio da cozinha, com uma caneca de café,
olhos distantes e com o peito marcado, dilacerado pelas imagens que surgem no
meu subconsciente e me assombram com cenas do passado e dos medos que tenho
escondidos em mim. Tola. Não quero mais... Sei que existe uma forma de acabar
com tudo isso, sei que posso aniquilar esses sentimentos de uma vez por todas.
Sei que isso é irreversível também, mas tenho me sentido presa, como se tudo
estivesse tentando me levar pra frente mas permaneço presa nesse cais. O café
esfriou. Tentei cozinhar, mas sem as forças de uma mão foi em vão. Tentei lavar
roupa, tomar banho... Tentar dormir está fora de cogitação. Saio então de casa,
protegida pelo véu da madrugada, vestindo meu pijama e pantufas, quem sabe o
frio me faça sentir viva. Passos incertos... quem sabe amanhã seja o fim de
tudo? Desejo com todo meu corpo gelado que isso aconteça... Caminho de volta
pra casa e tomo uma ducha quente, saio exausta do chuveiro e rezo novamente
para que amanhã seja o derradeiro dia do homicídio. Deito na cama, e dessa vez
consigo não sonhar, mas acordo com lágrimas nos olhos...
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