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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Primeiras experiências da vida do 'Pequeno'

Em busca do Destino... 24/03/2009 (isso mesmo, dois mil e nove)


            Segunda-Feira.
            18h30min. Ou seis e meia da tarde, como preferir...
            Sem muitas informações a respeito do local onde seria realizada essa busca, minha diretora Cac conduziu-me até esse lugar. Durante a caminhada, conversas surgiram, e, embora eu aparentasse tranqüilidade, meu coração estava desesperadamente ansiando por mais informações além do medo de fracassar. Cada passo que dávamos em direção ao nosso laboratório de pesquisa, mais certeza eu tinha do que eu queria encontrar Lê Petit.
            Chegamos por fim à praça Ramiro Riedger (não sei como se escreve esse nome) e dúvidas nortearam minha cabeça, contudo, consegui ficar tranqüilo, e me concentrar no que viria.
            Sentamos na verde campina a nossa frente e as informações foram dadas... Não muitas, nem muito objetivas, mas foram dadas, afinal, o objetivo era que eu percebesse quem era esse personagem, sem pensar inicialmente no fim da história.

Pequeno...
            Deitei na grama, escutando música, idealizando momentos felizes da minha infância, experimentei lembranças diversas, inclusive lembranças recentes de minha vida, pois me considero uma criança grande. Permaneci ali observando o céu esperando por meus amigos. Logo em seguia percebi as luzes do parque, percebi seu formato, sua intensidade, e o que mais me chamou a atenção foi a perspectiva visual que eu tinha, via tudo de cabeça para baixo. Aproximaram-se de mim, um pai com seu filho jogando futebol. Observei o jogo, e fui tomado por uma alegria muito grande, que fez com que eu me levantasse e me dirigisse até um pequeno morro que, a meu ver, era meu castelo de areia. De lá, eu tinha uma visão privilegiada do parque, e essa visão me trouxe uma melancolia, pois todas as pessoas que por ali passavam, estavam acompanhadas, felizes, possivelmente, enquanto eu mergulhava numa solidão muito grande.
            Encaminhei-me até algumas pedras logo à frente e fiquei um tempo por ali. Não pude deixar de perceber a frieza e a dureza delas, quase intocáveis ali naquela campina, era um refúgio seguro. Um grupo de jovens se encaminhou em direção a meu castelo de areia. Isso meu causou uma dor muito grande... ‘Como eles se atrevem a ocupar um espaço que já possuía dono?’ Porém uma impotência me tomou, e percebi que essa atitude passiva diante dos outros vinha desde criança. Sempre sendo convidado para as festas e brincadeiras, nunca tomando a iniciativa para interagir com as pessoas.
            Com um rompante, comecei a andar por entre as pessoas buscando um lugar seguro, um lugar onde eu pudesse ficar isolado, seguro dos olhares que me perseguiam. Sentei-me perto do lago, alimentando uma esperança de que logo meus amigos apareceriam. Não muito longe de mim, havia um rapaz sentado, sozinho. Aos poucos alimentei uma vontade de ir até ele a falar alguma coisa, pois compartilhávamos um sentimento. Quando finalmente tomei coragem, ele já não estava mais ali. Então percebi que durante toda a minha vida, a demora em tomar as decisões era presente em minha vida, e por isso sempre perdi oportunidades de dizer o que eu realmente sentia...
            Dominado por um torpor, caminhai sem rumo em busca de algo que eu já nem sabia mais o que era. Os olhares das pessoas pareciam fuzis mirados para mim. Eu caminhava contra o fluxo de pessoas, acredito que por isso eu era alvo se seus olhares, afinal, são naturais do ser humano olhares e criticas a quem não segue o fluxo rotineiro das coisas, contudo não lembro de ver uma placa que indicasse um único sentido para a caminhada.
            Encontrei por fim um lugar onde estava livre dos olhares das pessoas. Crianças brincavam no play ground atrás de mim, e consegui experimentar novamente um sentimento leve, feliz, infantil, despreocupado, somente ‘estar’ ali sem explicações. Contudo essa calmaria foi arrancada de mim por um rapaz que tirava fotos copiosamente com um flash que me incomodava incomensuravelmente. Fui assolado por um desejo de me mascara, me esconder atrás dos meus óculos espelhados. Não o fiz. Caminhei até a ponte de onde os flashes vinham e fui tomado por um sentimento de repulsa, as pessoas que ali estavam ao me verem caminhando naquela direção caminharam, quase fugiram para o lado oposto. Inevitavelmente me senti caindo em um buraco sem fundo, somente o vento, presente a todo o momento durante minha caminhada conseguia me fazer sentir, mesmo que brevemente, livre. Acendi um cigarro para ver ser o cheiro me acalmaria. Caminhei até um lugar na beira do lago, lá estava um casal que conversava. Eles nem notaram minha chegada... Coloquei os óculos, o cigarro aceso, senti um vazio muito grande.
            Com medo de me perder nesse sentimento e me afogar na melancolia, caminhei energicamente em direção ao único lugar que conseguia pensar, e que me tinha certeza de que estaria a salvo. Minha muralha de pedra.
            Sentado ali, me senti confortável, como se tivéssemos algo incomum, e acho que realmente temos...
            Os óculos revelaram que enquanto eu estou usando eles, eu vejo somente o que eu quero, pois o cigarro estava aceso e quando eu o olhava por cima das lentes eu via a fumaça e quando eu olhava por trás das lentes a fumaça sumia. Mas o que mais me chamou a atenção neste momento foi que por fora do cigarro, aparentemente de cinzas, guarda dentro dele uma chama, um fogo que queima, muitas vezes sem ser visto.
            Neste momento eu só conseguia pensar em trechos do poema Tabacaria de Álvaro de Campos, um dos pseudônimos de Fernando Pessoa:

“Não sou nada, nunca serei nada, não posso querer ser nada, a parte disso tenho em mim todos os sonhos do mundo.”
“Sou aquele que sempre esperou que lhe abrissem a porta, ao pé de uma parede sem porta.”

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