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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Lispector...

Acordei hoje com tal nostalgia de ser feliz.
Eu nunca fui livre na minha vida inteira. E acho que meu maior algoz sempre fui eu mesmo...
Por dentro eu sempre me persegui.
Eu me tornei intolerável para mim mesmo. Vivo numa dualidade dilacerante.
Eu tenho uma aparente liberdade, mas estou preso dentro de mim. Sou como você me vê, posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania, depende de quando, e como você me vê passar.
Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesmo não posso. Pareço estranho ou louco?  Não sou, só que sinto a necessidade de falar certas coisas, outras eu calo por temer. E se por te falar eu te assustarei e te perderei? Mas se eu não falar, eu me perderei, e por me perder eu te perderia. E a complexidade se faz presente. Mas se eu sou, perderia você? Então que eu perca, porque não serei mais aquilo que os outros, ou que você quer de mim, preciso acreditar em mim, preciso me querer mais. Se eu tiver que perder, que seja você, não eu. E no final do jogo quem perde mais é você que não se tem e não me tem.
Por enquanto estou inventando a tua presença... Porque a dependência ainda é forte, mas vai passar. O que me atormenta é que tudo é 'por enquanto', nada é ' sempre'.
Ando de um lado para outro, dentro de mim. Estou bastante acostumado a estar só, mesmo junto dos outros. Sou composto por urgências: minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Livrei-me de você. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos. Mas encontro meu eixo, meu equilíbrio dentro disso.
Não é que vivo em eterna mutação?  Com novas adaptações, o meu renovado viver dança, canta e vibra com a nova energia do ser, e assim, aparentemente me sinto mais seguro, mais forte. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus.
Mas, tantos defeitos tenho. Sou inquieto, ciumento, áspero, desesperançoso...  Embora amor dentro de mim eu tenha... Só que ainda não sei usar esse amor e às vezes ele parece farpas... E o amor, em vez de dar, exige. Será que estou exigindo? De mim? E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa que eles precisam. Então pretendo ser o melhor de mim, por mim mesmo e só.
Já que sou, o jeito é ser. Simplesmente eu sou eu. E você é você. É vasto, mas vai durar para cada um. Por enquanto tu olhas para mim e me amas. Não, não, tu olhas para ti e te amas. É o que está certo. Temos que nos amar para poder dar amor.
Me perco novamente nisso tudo, me procuro incansavelmente e me acho encolhido em algum lugar dentro de mim. Preciso de um tempo para mim às vezes pois viver exige muito. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar para liberar o que não é tão bom e deixar entrar somente o que eu preciso o que é bom.
Sabe o que eu quero de verdade?! Jamais perder a sensibilidade, mesmo que às vezes ela arranhe um pouco a alma. Porque sem ela não poderia sentir a mim mesmo... Tenho a sensibilidade aflorada e isso que me faz ser o que eu sou. Aprendendo a dosar isso tudo para que não seja nocivo a ninguém, principalmente a mim mesmo. Sou tão misterioso que não me entendo! Mentira, eu me entendo mas gosto do sabor do mistério. E se hoje você me vê assim, pode ser que amanhã eu esteja outro. Se você me vê, veja-me de verdade. E não se preocupe com nada mais pois ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras pessoas. E outras coisas. E assim como a primavera, eu me deixei cortar para vir mais forte...

Começo a florescer.

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