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sábado, 14 de setembro de 2013

Encontro de PRIMAVERA...

O salão estava caótico. Risos. Pessoas. Dança.
Escutava as conversas paralelas sem prender-me de fato. Segui andando em direção à saída, precisava conseguir ouvir minha voz, reconhecer-me em meus pensamentos. Cheguei a varanda e ousei sentar na beirada do telhado, por ser um lugar isolado e calmo. Sempre tive medo de altura, mas a essa altura do momento, queria somente respirar e me ouvir. O ar frio soprava em minha pele, aliviando a ansiedade juvenil pulsante dentro de mim. Olhei para o céu, num azul profundo hipnótico. Surpreendi-me brincando de  desenhar no céu, como se todas as estrelas formassem um enorme liga-pontos, criando e recriando formas. Algumas vezes precisava mudar o rumo do traço por conta de algumas estrelas que, sacanas, teimavam em cair do firmamento. Uma delas, muito brilhante e amarela, chamou-me a atenção. Olhei-a caminhando, caindo em direção ao chão, deixando no céu seus últimos rastros de vida. Lembrei-me então do motivo de eu estar ali, sentado na beira do telhado.
Aquele sufoco dentro do salão estava me consumindo. Precisava sair de lá e sentir-me inteiro.
Algo estava muito estranho, errado, como se eu fosse um enorme quebra cabeças a ser completado, mas aonde estariam as peças faltantes? Desci do telhado e lentamente voltei para dentro do salão, andando preguiçosamente por entre aquelas pessoas sufocadas nelas mesmas e que nem ao menos notaram que eu passava em um ritmo diferente do habitual delas. Saí.
Olhei para o céu e vi o rastro deixado por aquela estrela e decidi segui-lo. Não tinha mesmo para onde voltar. Caminhei até avistar o sol nascer e com ele todo o mundo iluminar-se. Caminhei por tanto tempo que estava com saudades do calor do sol. Já não havia mais rastros de estrelas para seguir. Sentei-me e decidi para qual caminho seguir.
Esquerda.
Caminhei.
Pouco tempo depois, percebi que em algumas árvores no caminho tinham em seus galhos algumas fitas desgastadas pelo tempo. Fitas amarelas. Fui tomado por um desejo forte de descobrir qual seria o caminho apontado por aquelas fitas amarelas. Segui à passos largos percebendo que cada passo dado mais fitas amarelas surgiam.
Por fim cheguei a um enorme carvalho todo decorado com aquelas fitas amarelas. Sorri como se aquela imagem me fosse conhecida, como se eu soubesse o motivo de aquelas fitas estarem cuidadosamente amarradas nos galhos do carvalho. Caminhei um pouco mais e cheguei a uma campina, com várias margaridas plantadas e mais fitas amarelas. Ao centro da campina havia um chalé com uma chaminé que soltava fumaça denunciando que havia alguém ali dentro.
Criei coragem e andei em direção ao chalé, percebendo que nele também haviam fitas amarelas. Pensei que possivelmente a pessoa responsável por amarrar aquelas fitas morasse ali. Entrei. Havia um cheiro de café fresquinho, uma mesa com vários papéis escritos. Cartas? Palavras escritas na paredes, portas e janelas, foi quando senti uma lágrima escorrendo de meu olho e ouvi alguém dizer:
- Que bom que você voltou. Cumpri minha promessa, amarrei fitas amarelas para contar o tempo em que você ficou fora e agora, você está aqui, de volta!
Suspirei e senti o quebra-cabeça ser completado pouco a pouco.
- Desculpe-me mas não consegui escrever mais para você, porque acabaram-se os papéis e depois minhas mão não suportavam mais. Mas nunca parei de prender as fitas amarelas. Que bom que você voltou, agora sim estamos na Primavera.
Aproximando-se de mim, concluiu o quebra-cabeça encaixando a última peça que faltava. Beijou-me os lábios e pude sentir toda a verdade daquele amor.
Olhei em seus olhos e sorri. disse-lhe:
- Desculpe a demora...
- Venha, vamos tomar um café e viver nossa Primavera.
Encontrei aquilo que me faltava.
Sorri e entreguei-me.
Leve.

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