- Eu sabia que era besteira comer aquela última esfirra... Adoro mesmo comer esfirras, principalmente por conta de seu tempero. Gosto mesmo é de pingar gotas de limão porque isso deixa seu paladar mais saboroso ainda. Mas eu falava... Ah, sim, que eu tinha comido demais. Até porque eu já tinha comido demais mesmo, e não sei se foi por gula, ou o que, que me fez continuar a comer. Na verdade sei sim.
Seu olhos, lindos e verdadeiros me prendiam a atenção, seu sorriso, sua presença, sua voz criaram entre nós uma aura magnética, tornando assim impossível de eu me desprender, e eu nem queria sair. E tem ainda seu vibrato quando canta, e nossa você canta muito bem e atua muito bem. Eu, como sempre, em situações onde houvesse muito sentimento ou mesmo ansiedade, perco a noção do mundo e não consigo agir coerentemente. Dou risada como um abestalhado, fico vermelho a cada sorriso, não consigo formular uma frase coerente e rio de nervoso. Por isso para manter a minha boca ocupada com algo que não seja falar, desembestei a comer esfirras... Na real eu tenho conteúdo, sabe?! Consigo mesmo sustentar um conversa inteligente. Mas... Não precisava de mais nada naquele momento, se não aproveitar sua presença. Era mágico, simples e completo. Mas isso não poderia ficar assim por muito tempo, até porque eu passaria por um descontrolado por comida, com um fetiche por esfirras que não consegue conjugar um verbo no presente do indicativo. Eu bem que te falei da primeira vez que eu não sou bom com palavras. Não sei porque estou assim, ou porque a sua presença me afeta tanto assim. Me afeta no bom sentido. Fico feliz com isso. E agora você tá aí, olhando pra mim, como se eu fosse maluco, mas eu não sou maluco, juro! Só queria mesmo dizer isso, que na verdade eu não consigo dizer e que agora estou me arrependendo de ter começado a dizer... Isso que eu nem falei de como gosto do calor do seu corpo, que parece um sol, meu sol particular. Nossa eu falei isso mesmo? Sou um abestalhado mesmo... Mas a verdade é que você é a melhor parte de mim. Será que tem mais esfirra?... Eu poderia enfiar umas quinze na boca, de uma vez para impedir mais palavras de sair, e assim você não me olharia assim pasmo desse jeito. Ai meu deus, eu não consigo me expressar direito, acho que deveria fazer umas aulas de teatro para ver se consigo, ou talvez um psicólogo me ajude a entender isso que eu não sei dizer... Falei de psicólogo? Garçom! Pelo bem da minha sanidade, traga uma bandeja de esfirras...
- Não! Não faça isso. Quero continuar ouvindo você falar. É bonito, sincero.
- Ai você tá com pena, né? Eu sei... Eu não deveria ter começado isso, eu deveria ter tentado entender tudo isso antes, porque eu ainda não consigo entender, talvez porque seja inclassificável e que...
- Isso é amor!
- (pausa dramática, olhos esbugalhados, coração para por cinco segundos. Esqueci como se respira! Só falta essa mesmo, morrer aqui e agora... Respira... Respira... Amor... É isso! Ai, volta a respirar)
- Olha para mim... Eu amo você seu idiota.
- Eu amo você também.
- Vamos tomar um sorvete, ou prefere esfirra?
- O sorvete é gelado, e eu sou friorento.
- Não tem problema, eu te mantenho aquecido. Vem comigo?!
- Eu amo você.
- Eu amo você.