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segunda-feira, 15 de julho de 2013

Torrente...

- Eu sabia que era besteira comer aquela última esfirra... Adoro mesmo comer esfirras, principalmente por conta de seu tempero. Gosto mesmo é de pingar gotas de limão porque isso deixa seu paladar mais saboroso ainda. Mas eu falava... Ah, sim, que eu tinha comido demais. Até porque eu já tinha comido demais mesmo, e não sei se foi por gula, ou o que, que me fez continuar a comer. Na verdade sei sim.
Seu olhos, lindos e verdadeiros me prendiam a atenção, seu sorriso, sua presença, sua voz criaram entre nós uma aura magnética, tornando assim impossível de eu me desprender, e eu nem queria sair. E tem ainda seu vibrato quando canta, e nossa você canta muito bem e atua muito bem. Eu, como sempre, em situações onde houvesse muito sentimento ou mesmo ansiedade, perco a noção do mundo e não consigo agir coerentemente. Dou risada como um abestalhado, fico vermelho a cada sorriso, não consigo formular uma frase coerente e rio de nervoso. Por isso para manter a minha boca ocupada com algo que não seja falar, desembestei a comer esfirras... Na real eu tenho conteúdo, sabe?! Consigo mesmo sustentar um conversa inteligente. Mas... Não precisava de mais nada naquele momento, se não aproveitar sua presença. Era mágico, simples e completo. Mas isso não poderia ficar assim por muito tempo, até porque eu passaria por um descontrolado por comida, com um fetiche por esfirras que não consegue conjugar um verbo no presente do indicativo. Eu bem que te falei da primeira vez que eu não sou bom com palavras. Não sei porque estou assim, ou porque a sua presença me afeta tanto assim. Me afeta no bom sentido. Fico feliz com isso. E agora você tá aí, olhando pra mim, como se eu fosse maluco, mas eu não sou maluco, juro! Só queria mesmo dizer isso, que na verdade eu não consigo dizer e que agora estou me arrependendo de ter começado a dizer... Isso que eu nem falei de como gosto do calor do seu corpo, que parece um sol, meu sol particular. Nossa eu falei isso mesmo? Sou um abestalhado mesmo... Mas a verdade é que você é a melhor parte de mim. Será que tem mais esfirra?... Eu poderia enfiar umas quinze na boca, de uma vez para impedir mais palavras de sair, e assim você não me olharia assim pasmo desse jeito. Ai meu deus, eu não consigo me expressar direito, acho que deveria fazer umas aulas de teatro para ver se consigo, ou talvez um psicólogo me ajude a entender isso que eu não sei dizer... Falei de psicólogo? Garçom! Pelo bem da minha sanidade, traga uma bandeja de esfirras...
- Não! Não faça isso. Quero continuar ouvindo você falar. É bonito, sincero.
- Ai você tá com pena, né? Eu sei... Eu não deveria ter começado isso, eu deveria ter tentado entender tudo isso antes, porque eu ainda não consigo entender, talvez porque seja inclassificável e que...
- Isso é amor!
- (pausa dramática, olhos esbugalhados, coração para por cinco segundos. Esqueci como se respira! Só falta essa mesmo, morrer aqui e agora... Respira... Respira... Amor... É isso! Ai, volta a respirar)
- Olha para mim... Eu amo você seu idiota.
- Eu amo você também.
- Vamos tomar um sorvete, ou prefere esfirra?
- O sorvete é gelado, e eu sou friorento.
- Não tem problema, eu te mantenho aquecido. Vem comigo?!
- Eu amo você.
- Eu amo você.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Linhas...

No começo eu achei que entendia, fiz cara de que com o tempo tudo se ajeitaria. Levantei a cabeça e segui... Segui em direção a próxima queda, a próxima dor. É tão clássico dizer que o ser humano cresce com suas dores e são elas que nos tornam melhores... Se fosse assim, eu teria quinze metros de altura e seria tão melhor quanto Madre Tereza. Pois é... Mas a vida não é justa e os sofrimentos nem sempre nos fazem pessoas melhores. Eu realmente estou lutando, eu realmente estou ousando. Me falaram que devemos seguir nossos sonhos, trilhar nosso caminho, para que um dia olhemos para trás e nos orgulhemos do nosso passado, mas no atual momento meu passado é fragmentado, repleto de faltas. Mesmo agora prestes a...
Penso em mil coisas, meu tempo ritmo é muito mais acelerado e consigo dentro desse limitado corpo, abrigar um milhão de sentimentos. Coisas minhas que tentei abrir e compartilhar, mas não deu muito certo. Sabe, aprendi que não podemos ser cem por cento honestos, porque a maioria das pessoas não quer ouvir a verdade porque isso não alimenta os egos famintos de elogios e fama. A maioria gosta de ilusões e de sorrisos daqueles de propaganda de creme dental. Banalidades. O mundo é repleta delas... Cerimônias de banalidades. E mesmo eu tentado fugir do banal, agora quase me torno banal prestes a...
Sempre que sofro me refugiei nas palavras. Sempre escrevi para tentar botar meus pensamentos em ordem, para me entender, para desabafar. Funciona como uma válvula de escape, entende? Certo, fiquei muito tempo sem por em palavras minhas dores, aflições e alegrias. E o resultado disso não foi muito bom porque... Bem, sinto falta de escrever, assim como sinto falta de eu pequeno. De um Eu que tinha como preocupação ser feliz. Mas assim como tudo muda - veja, mais um clichê - eu mudei. Passei por baixos, muito baixos e altos e baixos de novo e altos outra vez. Tomei decisões ruins, outras melhores...
Saí de casa em busca de um sonho, deixando o que era seguro e me aventurando, me atirando nesse abismo que é viver... E agora sinto que o impacto com o solo seja eminente. Só queria que não doesse e que não tivessem pedras, mas como podemos adivinhar como será?! Vejo linhas cor de vinho e penso em preenchê-las com palavras novas, com canções, até mesmo com lágrimas. Porém estou seco, além das lágrimas... Não consigo mais chorar. Mesmo quando estou sofrendo com essas linhas não preenchidas que partem de mim.
Não choro, meus olhos estão molhados, mas é por causa do chuveiro ligado. Sempre gostei de banhos demorados, porque na falta de escrita, a água me consolava, limpando a alma... E agora ela limpa minhas tão estimadas linhas mal escritas. Sempre gostei das reticências pela sua possibilidade de um fim aberto ou que possa haver uma continuação, e agora minhas linhas se transformam em várias reticências...  É uma pena que eu não tenha dado orgulho a quem me amava, é uma pena que eu não tenha conseguido fazer feliz que eu amei, é isso que mais me dói, saber que não fui suficiente... E agora não resta muito a fazer, não é mesmo. Meu corpo está quente por conta da água do chuveiro, meus dedos murchos, e o coração insistente a batucar...
Dizem que ninguém é uma folha em branco, que temos toda a carga emocional e cultural impregnada em nossa pele e que com o tempo compomos as informações nessa folha que é a vida, mas... Quando há ausência de vida, aí sim nos tornamos uma folha em branco, pálida, lívida... No meu caso vazia... Não tenho forças para segurar minhas palavras porque o corte no punho é fundo demais e minhas linhas já saem fracas... Queria tanta coisa ainda... Mas dizem que há outra vida, e desejo que sim, porque para muitos viver é algo tão bom, tão feliz e gratificante, que seria injusto eu não poder experimentar essa sensação.
Sinto que meu corpo agora está frio. Penso em quem eu amo. Escuto o tilintar da lâmina no azulejo do banheiro enquanto meu corpo flutua para a escuridão. Espero mesmo não ter caído em um clichê de despedida, espero mesmo que seja uma moratória para uma outra chance de SER.
O corpo pesado, o peito leve e a vontade de ter sido diferente. Sinto um nó na garganta, uma lágrima presa nos olhos. Ainda havia um último sentimento guardado aqui dentro, enfim. Esperança? Não sei, deixo isso para você decidir o que lhe agrada mais. Se um dia nos encontrarmos em outro plano ou em outra vida, você me conta, se por acaso se lembrar...
(kaio armando gomes bergamin)